sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Jogada de semiótica e o universo do brincar

Jogada de semiótica e o
universo do brincar
Nathália Geraldo
Para muitos, vício e perda de tempo; para outros, a melhor forma de verdadeiramente fugir
da seriedade da vida. E da morte. O jogo, atividade que envolve a aventura de apostar
fichas, driblar o adversário e “estrategiar” sempre deixou os olhos do homo ludens
brilhando. Desde o início de sua vida, o ser humano aprende a simular fingindo cuidar de
uma casa, dirigir um caminhão de areia ou realizar uma viagem intergaláctica. A
brincadeira nos move e todo o processo mental decorrente disso é estudo para a semiótica
da cultura e para a psicologia.
O filósofo tcheco naturalizado brasileiro Vilém Flusser, em artigo para o Centro
interdisciplinar de semiótica da cultura e da mídia (CISC), trata do universo do jogo, muito
mais extenso do que imaginamos. O jogo, para ele, é um sistema com regras. Uma partida
de tranca, portanto, só é um jogo, pois está definido que a carta que representa o “3”
impedirá o jogador adversário de utilizar as cartas que estão sob a carta “3” na mesa para
formar combinações, por exemplo. Junto com outras regras estabelecidas, dentre elas, a de
que não é permitido observar as cartas que estão na mão do adversário, a “regra do três”
forma a estrutura do jogo. As jogadas e combinações de cartas permitidas, então, formam a
competência do jogo. E a totalidade de todas as partidas jogadas desde que se criou o
baralho, é o universo da tranca. É extenso e distante, mas, surpreendemente, terá um fim.
Como o jogo da velha que já tem todas as probabilidades de vitória definidas e regras
imutáveis, a tranca é considerada um jogo fechado. O jogo fechado, segundo Flusser, é
caracterizado pela coincidência da competência com o universo do jogo, situação que
provoca a finalização da partida. O jogo aberto, entretanto, é descrito no artigo do filósofo
como “(...) que permite aumento ou diminuição de repertórios e modificações de estruturas.” Ou
seja, as expressões artísticas, corporais ou até mesmo consideradas espirituais do ser
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humano, como a música e a dança, têm constantemente alterações na forma pela inserção de
“ruídos”, que nada mais são do que a influência da cultura na qual o indivíduo vive. Flusser
afirma que poetas são aumentadores do universo, e ao mesmo tempo simplificadores, visto
que reduzem ao sentir o que o homem lúdico vivencia. O ruído torna-se elemento
facilitador da compreensão, algo como “saber mais, para entender mais.”
Nesse sentido, o filósofo traça uma estrutura lógica para entender a fé, contraditória magia que
pode se opor ou complementar a magia dos jogos; ter fé é fechar-se para a crença zero do
jogo e tentar traduzir a realidade somente por um prisma. É quando o homem pede,
urgentemente, para deixá-lo “brincar de ser feliz e pintar o seu nariz”, afinal, é isso que o
diferencia.
Obra original disponível em:
http://www.overmundo.com.br/banco/jogada-de-semiotica-e-o-universo-do-brincar

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