sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

A educação sexual das crianças: - Christian Dunker

C.Dunker por  http://bit.ly/2BMXPLH

C.Dunker não precisa de muitas apresentações-vide abaixo sua qualificação.Falar de sexo com crianças ainda é tabu em pleno séc XXI.No geral as classes altas e médias apresentam maior preconceito.Contudo, a vida está e é sexo, as crianças convivem com isto  no seu corpo- brincando, explorando o mesmo e o dos outros que as cercam,  no cotidiano de casa à escola, nas ruas, afora nas redes  sociais.

Vivemos uma hipocrisia diante do tema face ao relacionamento com as crianças, todavia não podemos generalizar.Cuidado!As classes sociais mais pobres, nos parece por nossa experiência,num trabalho com crianças de  rua por mais de 10 anos (em São Paulo(capital)  e no Nordeste PE, PB), ser mas simples em encarar o fato, claro com excessões.A religião concorre com o tabu de falar em sexo e propõe hipocrisias demasiadas .O tema não é fácil para generalizações e tudo está em torno  da cultura e  da classe .C.Dunker nos propõe enxergar a dualidade moral do fato, vejamo-lo  nesses dois artigos,  Editora Boi Tempo.Paulo Vasconcelos



A educação sexual das crianças: a moral dupla

A educação sexual das crianças é uma perspectiva entre outras de nossas disposições diante da cultura, mas em certas circunstâncias políticas ela assume um valor estratégico autonomizando-se de seu contexto real.

Por Christian Ingo Lenz Dunker.

Estou no aeroporto de Khajuraho, noroeste da índia, esperando o voo para a cidade sagrada de Varanasi, antiga Benares. Acabo de sair do complexo de 22 templos construído por volta do ano 1.000 d.c. em homenagem a Brahma, Visnhu e Shiva, a trindade hindu da conservação, destruição e criação. Declarado patrimônio histórico mundial pela Unesco, Khajuraho é um centro turístico regional que atrai muitas famílias, interessadas na formação religiosa de seus filhos. Estilos budista, islâmico e hindu frequentemente convivem na composição de símbolos e estratégias arquitetônicas. O ritual de visitação é relativamente simples: retirar os sapatos, pousar a mão sobre a pedra frontal, subir as escadas, entrar no templo com as mãos em posição de “namastê” e andar no sentido horário, dentro e fora do templo. Meditação opcional, assim como palavras do guardião.
A família feliz e culta pode então apreciar as 84 figuras do kama sutra, incluindo as clássicas 69 e 71, as básicas ou as mais complexas e ginásticas, envolvendo ajuda e suporte de duas ou mais pessoas, sexo entre homens ou entre mulheres, masturbação, zoofilia, felação e sodomia, bem como a interveniência de deuses, ensinamentos e técnicas para manter ou prolongar a ereção. Tudo isso não passa de 10% do conjunto de esculturas disponíveis e não se encontra em uma ala separada, mas “entre outras coisas”, junto com representações ligadas a guerra, à condução política dos rajás e marajás, os tipos e profissões humanas, bem como as inúmeras regências artísticas e as 33 classes de deuses hinduístas.
Enquanto as famílias indianas levam seus filhos para Khajuraho, há pelo menos mil anos, nós no Brasil do retrocesso inventamos de discutir “ideologia de gênero” e “pedofilia de museu”. A mesma Índia que pode servir de modelo para a educação sexual das crianças poderia ser descrita como um paradigma de iniquidade entre gêneros. Basta lembrar da terrível opressão que o sistema hindu de castas impõe sobre as mulheres, a criminalização, até recentemente, da sodomia e da homossexualidade, sem falar na endêmica cultura do estupro.
Infelizmente relações de gênero equitativas podem conviver com experiências empobrecidas ou inibidas diante do prazer. Relações injustas e opressivas entre gêneros podem também perpetuar relações, grupos ou comunidades “tóxicas” do ponto de vista da economia do prazer. Via de regra a equação entre sexo e poder, ainda que variando muito em sua composição, quase sempre atua como uma espécie de sismógrafo de avanços e retrocessos políticos. Não é coincidência que, historicamente, regimes ditatórias tenham promovido a perseguição a minorias de gênero e a práticas sexuais interpretadas como “divergentes”. Foi assim que, desde o início do governo Temer, o tema da corrupção institucional passou a se deslocar para o tema da caçada moral da corrupção sexual. Confirma-se assim o que Freud chamou da dupla moral presente no fulcro de nossa relação com a sexualidade. Julgamos aqueles a quem consideramos pertencer a nosso grupo, família ou classe de modo diferente da forma através da qual julgamos os outros a quem não atribuímos esse pertencimento. Mas além disso criamos justificativas morais para essa diferença de racionalidade em nosso julgamento atribuindo ao outro costumes sexuais intoleráveis, excessos pornográficos e ameaças a “nossas” crianças e mulheres. Por exemplo: 15% da população, potencialmente eleitora de Jair Bolsonaro em nome da “moral e dos bons costumes”, se mostra curiosamente indiferente ao fato do mesmo candidato ter declarado, em pleno Congresso Nacional, para uma deputada: “só não te estupro porque você não merece”.
É possível que isso ajude a entender porque a mesma regra anticorrupção foi empregada de forma tão diferente, por exemplo, quando se tratou de afastar Dilma mas de manter Temer, ou ainda quando se trata de julgar Lula ou de Aécio. Recentemente, Leonardo Sakamoto chamou nossa atenção para a ridícula diferença entre a repercussão do caso da nudez do MAM (2 milhões de compartilhamentos) e a relativa indiferença ao fato de que um estuprador condenado esteja prestes a assumir uma cadeira de deputado federal (60 mil compartilhamentos). A lei pode ser a mesma, mas sua aplicação é seletivamente diferencial. O fato é óbvio, conhecido e cristalino na cultura brasileira, mas quero chamar a atenção para a conexão entre ele e nossa moralidade sexual.
Estaríamos diante de um caso de moral dupla quando elogiamos os passeios familiares por Khajuraho e criticamos a cultura do estupro na Índia? A educação sexual das crianças é uma perspectiva entre outras de nossas disposições diante da cultura, mas em certas circunstâncias políticas ela assume um valor estratégico autonomizando-se de seu contexto real. “Proteger nossas crianças e mulheres” é o grito mais simples para criar perigo e disseminar o medo como afeto político. Desta forma, a generalização de um princípio é usada para inverter o sentido do caso particular: em nome da proteção e segurança sancionamos a opressão sexual e de gênero. Chegamos assim a uma nova aplicação cínica da moral dupla: cale a boca sobre Khajuraho, silencie a exposição “Queermuseu” e censure a nudez museológica – afinal falar de sexualidade é perigoso, desvia nossas crianças da moral sexual civilizada que queremos para elas. Ora, esta moral sexual ignorante é justamente a que tolera o estupro e a violência de gênero. Direita e esquerda chegam assim a um abraço kundalínico em torno da mesma enunciação repressiva. O esquerdomacho e a dominatrix feminista juntos finalmente.




A educação sexual das crianças: a enunciação repressiva



Por 
Christian Ingo Lenz Dunker.*

* Este artigo é um desdobramento da coluna anterior de Christian Dunker no Blog da Boitempo, intitulada “A educação sexual das crianças: a moral dupla“.
Seria de se esperar que a psicanálise mantivesse uma atitude de respeitosa complacência e admiração pelas variedades antropológicas dos semblantes assumidos pela sexualidade humana, mantendo uma atitude de neutralidade benevolente, análoga à que se espera do clínico diante de seus analisantes. Diante do combate cultural, das políticas sexuais ou das problemáticas de gênero deveríamos adotar a crença de que não há evolução nem hierarquia, mas apenas indiferença. O que se ganha de um lado perde-se de outro. No que diz respeito a valores ou modalidades de educação, todos eles seriam igualmente ruins na medida em que têm por objetivo comum reproduzir a repressão das pulsões. O argumento se encontrará resumido por Freud em O mal-estar na civilização, notadamente em sua ponderação sobre o papel da tecnologia: a mesma época que inventou o telefone, capaz de aproximar as pessoas, popularizou as estradas de ferro, que levaram estas mesmas pessoas para longe de nós.
Contudo, seria preciso lembrar aqui um texto freudiano fora desta curva – e muitas vezes esquecido pelos comentadores, com a notável exceção de Wilhelm Reich – chamado A moral sexual civilizada e a doença nervosa moderna, de 1908. Para aqueles que estão acostumados a enfatizar o machismo adrocêntrico e familiarista de Freud esquecendo-se convenientemente do argumento do relativismo cultural, seria importante lembrar como nesse texto Freud critica a moral dupla, que incide de forma seletiva para homens e mulheres no que diz respeito à sexualidade, notadamente quando se trata da monogamia e do uso dos prazeres. A tese central é de que o excesso de repressão (ou sacrifício da satisfação sexual) concorre para a produção social dos sintomas neuróticos. Contudo, o ponto crucial é menos o conteúdo da norma do que a rigidez e a demanda de sacrifício que ela carrega em si ou que ela quer impor aos outros.
Se a psicanálise tem alguma contribuição a oferecer ao regime das práticas sexológicas ou erotológicas ela recairá menos na prescrição de certos valores e mais na crítica da sua enunciação repressiva. Em outras palavras: indiferença quanto à diversidade das modalidades de gozo e resistência contra as instâncias que tentam monopolizá-las, quer subjetivamente (como o supereu), quer culturalmente (como as religiões, o Estado e a família). Em última instância, os semblantes são apenas montagens contingentes entre uma coisa e outra.
Cento e dez anos depois do texto seminal de Freud, podemos dizer que a regra se mantém mas nos convida a lidar cada vez mais com a variante invertida desta estrutura. Nossas modalidades de gozo são cada vez mais sensíveis à criação de identidades, segmentações de consumo e orientações políticas. Inversamente, o oligopólio religioso da repressão deu lugar, ao menos nas sociedades ocidentais, ao projeto de auto-empreendimento individual de enunciação da norma. Por isso, podemos olhar para sociedades altamente repressivas, como a indiana, e perceber nelas uma centelha crítica. Ela tornou-se um caso de espelho invertido, de certa maneira anacrônico, de nossa relação com a moral sexual civilizada pós-moderna. Queremos prescrever um kama sutradigital como capítulo preliminar da felicidade compulsória que impomos para nossas crianças. Por outro lado, as tratamos com um equivalente da moral dupla e ambígua que Freud descreveu para as mulheres. Consideramos que elas são nossa posse e extensão, propriedade e investimento, mas também que deveriam ser livres e autônomas. Tudo isso sem nos desobedecer. Terceirizamos sua educação e nos desincumbimos do trabalho cultural de sua formação. Queremos protegê-las do mal, controlando todos os riscos trazidos pelo outro, ao mesmo tempo em que esquecemos dos riscos que nós mesmos representamos para eles como enunciação unilateral da norma. Percebe-se assim que o semblante, como articulação entre a lei e o prazer, é o lugar de uma contradição. Uma contradição que piora e mostra seus efeitos deletérios quando não pode ser reconhecida em sua estrutura de “como se”.
O tema tão importante nos anos 1980 da educação sexual, ainda que combinado com a problemática da reprodução, da prevenção da gravidez precoce e das doenças infecto contagiosas, desapareceu quase completamente nos anos 2010. No lugar disso emerge a obscena Índia que havia ficado adormecida no Brasil profundo da Retomada: cultura do estupro, assédio generalizado, persistência do turismo sexual e da prostituição infantil, retóricas religiosas administrando o sexo antes, durante e depois do casamento, sem falar na cobertura jurídica para tratamentos de “reorientação sexual” ou no controle de museus e universidades.
Tudo se passa como se o discurso conservador do Brasil do Retrocesso estivesse propondo o exato oposto da atitude psicanalítica: semblante composto pela enunciação repressiva, seletiva e “flexível” da norma junto com intolerância radical quanto aos modos de gozo que não lhes são idênticos. “Flexível” aqui não é mais o contrário de rígido, como se usava empregar para qualificar o supereu freudiano. Por isso, “flexível” pode assumir o valor de não ter posição alguma, isentar-se ou decidir que sua posição é a de não ter posição. “Flexível” quer dizer: de acordo com a conveniência de quem aplica localmente a regra. Ou seja: flexível na aparência, opressivo na essência. Enunciados liberais, enunciação repressiva. Exatamente como se diz que as novas leis trabalhistas flexibilizam as relações entre patrões e empregados, facultando que milhares de professores universitários sejam demitidos em nome desta “flexibilização”.
Já que todas as identidades são possíveis, por que não a do meu curral eleitoral? Já que o relativismo comportamental é a lei geral, por que não usar a mesma regra para enunciar valores tradicionais? Já que o feminismo está se colocando por toda parte por que não voltar a vestir o machismo escancarado? É esta inversão imaginária que comanda a gramática conservadora por meio da moral dupla e da enunciação repressiva.

 Original por : http://bit.ly/2GT2ta5*





Psicanalista brasileiro, ligado à tradição lacaniana. Formado pela USP, onde obteve seus títulos de graduação, mestrado e doutorado, Dunker possui também pós-doutorado pela Manchester Metropolitan University. Atualmente é professor Livre Docente do Instituto de Psicologia da USP, no Departamento de Psicologia Clínica. Coordena, em conjunto com Vladimir Safatle e Nelson da Silva Jr. o Laboratório de Estudos em teoria social, filosofia e psicanálise. É autor, entre outros, de Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros, vencedor do prêmio Jabuti. É colunista mensal do Blog da Boitempo.

domingo, 23 de julho de 2023

Exemplar de boneca da Grécia Antiga (dita "Plangona"), produzida há mais de 2.400 anos (c. 420 a.C.

 

Exemplar de boneca da Grécia Antiga (dita "Plangona"), produzida há mais de 2.400 anos (c. 420 a.C.). Museu da Civilização Grega, Atenas. Modeladas em argila e dotadas de membros articulados, as Plangonas eram as bonecas mais cobiçadas pelas meninas da Antiguidade Clássica.POR TWITTER

Pensar a História

domingo, 12 de março de 2023

ROBÔS EDUCATIVOS Como os robôs educativos ajudam no desenvolvimento dos filhos? http://bit.ly/3yubORM

 




ESTE ARTIGO(  http://bit.ly/3yubORM) MERECE UMA CRÍTICA SEVERA PARA VER OUTROS PONTOS QUE ELE NÃO FOCA-COMO O NEOLIBERALISMO/CONSUMO,A FORMA DO CORPO ESTÁTICA.A PEDAGOGIA PRECISA AVANÇAR EM VELOCIDADE MÁXIMA PARA INTERAGIR COM A ROBÓTICA.AS PEDAGOGIA CONSTITUI NA VERDADE UMA SÉRIE DE CIÊNCIAS ,COMO,AS CIÊNCIAS COGNITIVASA HISTÓRIA,A PSICOLOGIA/PSICANÁLISE,A FILOSOFIA,A INFORMÁTICA,A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO-ESTATÍSTICA ETC.E ENTRE ELAS A ROBÓTICA.E ONDE ESTÃO ESSES CURRÍCULOS ATUALIZADOS?

P VASCONCELOS paulovas@gmail.com


Os robôs educativos permitem que os alunos de qualquer idade se familiarizem e aprofundem no estudo da robótica e da programação, ao mesmo tempo que aprendem outras habilidades cognitivas. Descubra como os robôs podem ajudar na formação de seus filhos e quais são os mais populares no vasto leque disponível no mercado

A robótica educacional permite construir e programar um robô de maneira simples.

A palavra robô foi inventada pelo escritor tcheco Karel Capek para designar os autômatos

 em sua peça de ficção científica R.U.R. (Robots Universales Rossum), estreada em

 Praga em 1921. Trata-se de uma palavra formada por Capek do termo tcheco robota,

 que se refere a trabalho árduo.

Quase cem anos depois, os autômatos começam a fazer parte do processo de

 desenvolvimento e aprendizagem de nossos filhos: são os robôs educativos.

O QUE É A ROBÓTICA EDUCACIONAL?

A robótica educacional, também chamada de robótica pedagógica, é uma disciplina 

idealizada para que os estudantes tenham desde cedo contato com a robótica e 

a programação de forma interativa.

No caso da educação infantil e primária, a robótica educacional fornece aos estudantes

 tudo o que eles precisam para construir e programar facilmente um robô capaz 

de realizar diferentes tarefas. Há também robôs mais avançados e mais caros para 

ensino médio e superior. Em qualquer caso, a complexidade da disciplina sempre 

se adapta à idade dos alunos.

A robótica educacional faz parte do que é conhecido como educação STEM (Science, 

Technology, Engineering and Mathematics), um modelo de ensino destinado a ensinar ciência, matemática e tecnologia juntos e no qual a prática prevalece sobre a teoria.

COMO OS ROBÔS AJUDAM OS ESTUDANTES?

Para os mais pequenos, os robôs educativos ajudam as crianças a desenvolver, 

enquanto brincam, uma das habilidades cognitivas básicas do pensamento lógico

 matemáticoo pensamento computacional. Em outras palavras, ajudam a desenvolver 

o processo mental que usamos para resolver problemas de vários tipos através de

 uma sequência de ações ordenadas.

 



Corto nominado al Oscar ~ "Negative Space" - de Max Porter y Ru Kuwahata