Em busca de uma cultura infantil na internet: a pesquisa escolar no site KidRex 1 Ana Flávia de Luna Camboim2 Universidade Federal da Paraíba Resumo
Neste artigo, nosso objetivo foi identificar se existem indícios da instauração de uma cultura midiática infantil na rede, ou seja, uma cibercultura infantil. Para cumpri-lo, averiguamos os resultados obtidos por crianças, em suas pesquisas escolares, no site de busca KidRex, uma espécie de Google infantil, procurando perceber se há uma adequação do conteúdo disponibilizado a este usuário, em comparação com os resultados do site de busca Google, para os termos: “tabuada”, “independência do Brasil”, “corpo humano”, “novas regras da gramática” e “regiões brasileiras”. A pesquisa mostrou que são poucas as opções de sites que obedecem ao que simbolizaria a infância, por isso, a nosso ver, ainda desenvolve-se o embrião de uma cibercultura infantil, apoiado, provavelmente, num viés educacional, que poderia facilitar a aprendizagem.
Palavras-chave
Cultura Infantil; Internet; KidRex; Google.
1 Introdução
As mídias interativas fornecem subsídios para que educadores voltem os olhos para o público infantil. O fluxo de informação e comunicação para elas e entre elas aumenta, e as crianças incorporam fácil e rapidamente as novas tecnologias, pois, para elas, em contínuo processo de crescimento e aprendizagem, tudo é novo e está no mundo para ser apreendido. “(...) Children and young people. This group, supposedly ‘the digital generation’, is claimed to represent the future, being ‘in the vanguard’’’ (LIVINGSTONE 3). A tecnologia, tão
1 Artigo científico apresentado ao eixo temático “Educação e Aprendizagem”, do III Simpósio Nacional da ABCiber. 2 Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba, na Linha de Pesquisa Culturas Midiáticas Audiovisuais. Integrante do Gmid (Grupo de Pesquisa em Processos e Linguagens Midiáticas). Professora do Curso de Publicidade e Propaganda do Instituto de Educação Superior da Paraíba. Email: fla.alerta@gmail.com.
3 “(...) As crianças e os jovens. Este grupo, supostamente 'a geração digital', é reivindicado a representar o futuro, pois estão 'na vanguarda’”. (tradução livre). LIVINGSTONE, Sonia. Children’s use of the internet: reflections on the emerging research agenda. Disponível em: http://nms.sagepub.com/cgi/content/abstract/5/2/147. Acesso em: 24 jul. 2009. P. 148.
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espantosa para os adultos e até inimiga dos mais velhos, caminha para um relacionamento íntimo com as crianças.
Podemos esperar que, com o tempo e a presença cada vez maior de espaços multimídias na escola [e em casa], os meios digitais tendam a perder a aura que de certo modo ainda os distancia da argila, dos pincéis e dos lápis de cor- distância que tende a ser sentida (...) pelos adultos (...). Para as crianças hoje recém-chegadas ao mundo, que não possuem perspectiva histórica, e que têm acesso fácil ao computador, ele é desde já primordialmente um brinquedo, ou um espaço onde se brinca. (GIRARDELLO, 2008. p. 135.)
Entre as estantes de livros ilustrados, bichos de pelúcia, jogos de armar e a própria TV, está o computador e a variedade de possibilidades que ele oferece. Diante desta realidade, Girardello (2008) pergunta-se como ocorrem os processos de apropriação dessas máquinas e lembra que, dentre os direitos de mídia das crianças, reconhecidos em 1995 pela “Carta da UNESCO sobre televisão para crianças”, está o direito à provisão – o direito de as crianças terem à sua disposição uma grande variedade de materiais midiáticos especialmente planejados para elas. E isso pode ser estendido às mídias interativas.
Sendo assim, refletimos qual seria a porta de entrada do público infantil para a internet: as páginas pensadas para ele ou as desenvolvidas para os adultos? Existe relacionamento na rede diretamente com as crianças ou ele se dá antes com os pais, professores e responsáveis? Resumindo estes questionamentos, perguntar-nos-íamos: Existem indícios da instauração de uma cultura midiática infantil na rede?
Para uma tentativa de resposta, a partir de exemplo, averiguamos como a comunicação permite o envolvimento de crianças, quando fazem suas pesquisas escolares, no site de busca KidRex, uma espécie de Google infantil. Nosso intuito é perceber se há uma adequação das informações disponibilizadas a este usuário que permitam o aprendizado e, a partir da pesquisa comparativa com o site de busca Google, confirmar ou não indícios da existência de uma cultura midiática infantil na internet.
Antes, é preciso discutir a temática da infância e da cultura infantil na internet, ou cibercultura infantil, termo cunhado por nós neste artigo, buscando algumas definições e características. Com o cuidado, no entanto, de trilhar um caminho diferente das pesquisas mais comuns, pois, “(...) the debate will only advance when it transcends the futile
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oppositions between optimists and pessimists or technophiles and technophobes (...)”, como traz Livingstone4.
2 A cultura infantil na era do desaparecimento da infância
Como falar da possível existência de uma cultura midiática infantil se a infância está desaparecendo? É comum ouvirmos nas conversas de adultos que as crianças mudaram, estão precoces, aprendem sem que ninguém as ensine, desenvolvem-se com mais rapidez do que antigamente ou até que já nascem adultas. Sendo assim, é importante retomarmos o que se entendia por ser criança em outros tempos.
O prenúncio do sentimento de infância, segundo Postman (1999 apud ALCÂNTARA; CAMPOS, 2006), surge com os antigos gregos a partir da criação das escolas, pois elas eram indícios de que havia uma percepção das necessidades do pequeno adulto.
Além da educação formal, para complementar o que caracterizaria a infância, os romanos, na Antiguidade, estabeleceram a noção de “vergonha”, ou seja, “certas facetas da vida – seus mistérios, suas contradições, sua violência, suas tragédias – (...) cuja revelação indiscriminada é considerada vergonhosa” era resguardada da criança, apenas os adultos poderiam entender e discutir determinados assuntos. (idem, p. 140).
É, portanto, com as invasões bárbaras e o declínio do Império Romano que passa a não mais existir a educação formal e a idéia de proteger as crianças dos segredos dos mais velhos, assim, desaparece este sentimento de infância. Da condição física de bebê, dependente dos cuidados maternos, passava-se imediatamente à condição sociocultural de adulto.
A criação da prensa tipográfica, no fim da Idade Média, teve grande participação no reaparecimento da infância, pois trouxe novamente a necessidade de re-socializar a alfabetização. A imprensa consolidou um parâmetro claro, definindo adulto como aquele que lia e escrevia e criança como aquele que devia passar por um processo de aprendizado lento e gradual. (ALCÂNTARA; CAMPOS, 2006).
Além disso, o advento da prensa promoveu grandes transformações sociais e culturais. mesmo não sendo o principal agente de mudanças, possibilitou outros usos e funções da
4 “(...) o debate só avançará quando transcender as oposições fúteis entre otimistas e pessimistas ou tecnófilos e tecnófobos (...)”. (tradução livre). Idem, p. 151.
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escrita, do saber e das redes de comunicação, proporcionando uma revolução cultural, confirma Eisenstein (1998).
A tecnologia da imprensa modificou a cultura oral, na qual somente alguns detinham o saber e transmitiam-no oralmente para um grande público. A possibilidade de reprodução rápida dos textos facilitou o acesso ao conhecimento, agora de maneira individualizada, em leituras silenciosas.
Os pensamentos de Eisenstein, em sua obra, aplicam-se a outras revoluções nos meios de comunicação como a que acontece nos dias atuais. A cultura digital favorece métodos diferentes de aprendizagem, que até pode ameaçar a participação das escolas, antes detentoras do conhecimento. A criança hoje parece aprender sozinha, a sua maneira, explorando até mesmo os assuntos e ambientes que não fazem parte de seu mundo.
(...) as novas formas de comunicação em redes ampliam essa aquisição de conhecimentos sem uma hierarquização de saberes, sem um controle dos adultos e sem uma sistematização própria da escola – serialização, percurso organizado, interdição ou acesso a conteúdos específicos. (CAPARELLI, 2002, p. 134)
Assim, a ausência da noção de “vergonha” e a pouca relevância da escola ou o descontrole do conhecimento parecem comprometer mais uma vez o sentimento de infância. E este processo teria sido acelerado pela TV, como afirma Postman (1999 apud ALCÂNTARA; CAMPOS, 2006) e, naturalmente, pela internet.
Diante de tudo isso, é necessário termos cautela ao simplesmente culpar uma tecnologia e ficarmos atentos para evitar o determinismo tecnológico, que encobre processos mais profundos na sociedade. Das três instituições responsáveis pela formação moral, cultural, espiritual de uma sociedade – família, escola e igreja- vemos uma atuação cada vez menor, andando ou correndo sempre atrás daquela que consideraram a quarta instituição (quarto poder) – a mídia.
Parece-me inequívoco que os diversos meios de comunicação exercem hoje uma função pedagógica básica, a de socializar os indivíduos e de transmitir-lhes os códigos de funcionamento do mundo. Sem dúvida instituições como a família, a escola e a religião continuam sendo, em graus variados, as fontes primárias da educação e da formação moral das crianças. Mas a influência da mídia está presente também por meio delas.5
5 MOREIRA, Alberto da Silva. Cultura midiática e Educação Infantil. In: Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 85, dezembro 2003. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 6 ago. 2009. P. 1216.
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“Não seria o caso de desconsiderarmos a possibilidade de que a infância estaria somente assumindo uma outra feição, em virtude de novas transformações socioculturais, ao invés de decretarmos precipitadamente o fim?”, questionam Alcântara e Campos (2006, p. 145). Para tratarmos de cultura infantil, em meio a tantas discussões, é preciso acreditar, antes de tudo, na existência do sentimento de infância, mesmo que com outra feição.
3 Cultura infantil na internet
O fluxo de conhecimento, antes apenas oral ou escrito, e agora audiovisual e interativo aumenta consideravelmente, e sendo o fluxo de comunicação para as crianças e entre elas tão intenso, surge a necessidade de aumentar as conexões. Do papel para a TV, da TV para o ciberespaço; os canais de conexão se dão pelo celular, pelos computadores e laptops, pelos players de áudio digital e pelos vários aparatos tecnológicos e comunicacionais que surgem a cada dia. As mensagens vão e voltam, ora vinda do leitor, ora do autor, do vendedor ou do consumidor. É um ciclo que vai se construindo, fomentando uma cultura midiática na infância.
Em relação à internet, diversas pesquisas realizadas apresentam dados que nos informam sobre o consumo midiático por parte do público infantil, o que força uma adequação do ciberespaço ao mundo desse. Por exemplo, a Kiddo ́s, em 2006, mostrou que entre crianças brasileiras, na faixa etária que compreende os 6 e 11 anos, das classes A, B e C, 69% têm computador em casa e 39% acessam à internet, a maioria ao menos uma vez por semana.
Por sua vez, Livingstone enuncia que “numerous commercial surveys chart children’s favourite websites, showing that children value this new medium for information, entertainment, relieving boredom and their preferred activity, communication.”6, confirmando a pesquisa empenhada por Belloni (2008, p. 112), em nível nacional e internacional, a qual revelou que
a maioria dos jovens desenvolve na internet práticas interativas (correio eletrônico, bate-papo e programa de mensagens instantâneas) e de acesso a bens culturais (principalmente copiar música), usa a internet e o computador para jogar sozinha ou
6 “numerosas pesquisas comerciais trazem os sites da web favoritos das crianças, mostrando que elas valorizam esta nova mídia para informação, entretenimento, para aliviar o cansaço, e a atividade preferida delas, é a comunicação". (tradução livre). Idem, p. 149.
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com amigos (raramente on-line), e também busca informações para fazer os deveres escolares, os sites mais citados são de diversão e de busca.
No entanto, estariam estes sites preparados para receber este público e possibilitar esta interação? As crianças parecem estar entrando pelas portas do fundo neste mundo virtual, tentando ouvir e entender o que os adultos querem dizer. Talvez, por isso, a internet tenha seu acesso proibido ou não recomendado pelos pais, que a enxergam como um perigo ou um instrumento que desvirtua a atenção dos filhos.
As crianças não têm autonomia na produção de material, a maioria é criada e produzida por adultos, apenas direcionada a elas, podendo elas participarem ou consumirem. Este é o argumento de Capparelli (2002) para defender a inexistência do que poderíamos chamar de cultura infantil.
No entanto, o conceito de cultura parece-nos bem mais amplo, não se restringe à autonomia na criação de uma idéia, pensamento, informação ou material como Capparelli (2002) afirma. A palavra cultura tem sua etimologia no termo “cultivar”, relativo não só à terra, mas também à implementação, disseminação de símbolos, comportamentos e crenças de um povo.
É difícil buscar uma definição consensual de cultura infantil. Contudo sabe-se que, embora a infância seja operada por forças sociais, culturais, políticas e econômicas, as tecnologias originadas ajudam a criar novas situações sociais, vestindo uma nova roupagem na cultura. No ciberespaço é possível encontrar uma grande oferta de imagens, textos e narrativas de boa qualidade que auxiliem no processo de aprendizagem. Talvez o aspecto educacional seja um propulsor da construção deste tipo de cultura no ambiente virtual.
Poderíamos, ainda de maneira muito elementar, citar alguns aspectos que constituiriam uma cibercultura infantil, ou melhor, que ajudariam a indicar uma possível construção da mesma, visto que os nativos digitais já estão inseridos na cibercultura, prontos para receber e também produzir informação.
As cores, uma linguagem acessível, simples e que possa ser entendida sem o auxílio de um adulto, a interface dos sites, a presença de personagens, mascotes, bichinhos ou animações, histórias, narrativas, tudo isso para compor aquilo que talvez nunca deixe de caracterizar a infância: a imaginação e a brincadeira. Santaella (2003, p. 24) versa que
são (...) os tipos de signos que circulam nesses meios, os tipos de mensagens e processos de comunicação que neles se engendram os verdadeiros responsáveis (...) por propiciar o surgimento de novos ambientes socioculturais.
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Todos estes signos que simbolizam a infância procuramos identificar nos resultados oferecidos pelo site de busca KidRex, que dá ênfase aos sites de conteúdo infantil, como explicaremos melhor abaixo, comparando-os com os resultados do conhecido Google, que disponibiliza material para adultos, primordialmente.
Escolhemos para esta pesquisa um tema que tivesse relação com o universo das crianças que são os temas escolares. Para este, selecionamos palavras que o representassem e as digitamos na caixa de busca dos dois sites citados, a saber: “tabuada”, “independência do Brasil”, “corpo humano”, “novas regras da gramática” e “regiões brasileiras”, todas escolhidas numa tentativa de abordar alguns dos principais assuntos estudados pelas disciplinas de Matemática, História, Ciências, Português e Geografia, respectivamente. Optamos por, em nenhum dos termos digitados, escrever a expressão “para crianças” ou “infantil”, já que a sugestão do site é oferecer links especialmente para crianças.
Observamos os resultados, apenas da primeira página, da busca por estas expressões nos dois sites, percebendo se realmente o KidRex prioriza o conteúdo para criança ou se seus resultados se igualam ou se assemelham aos do Google. A pesquisa quantitativa auxiliou neste comparativo entre o número de links infantis e adultos em cada site.
4 A busca: pesquisa escolar no Kidrex 4.1 KidRex: um Google infantil
O KidRex é potencializado pelo sistema de busca do Google, e traz como palavra de ordem “safe search for kids”, ou seja, a possibilidade de crianças navegarem com segurança, visto que, de acordo com a proposta do site, as pesquisas têm como ênfase os conteúdos relacionados ao usuário infantil, deletando da mesma os links com temas voltados para o sexo ou qualquer material inapropriado, através da tecnologia do Google's SafeSearch e da própria base de dados do KidRex.
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Figura: Home do site Kidrex Fonte: Disponível em: http://www.kidrex.org/
Se digitarmos as palavras “sexo”, “pornografia”, entre outras relacionadas a esta temática, a resposta obtida será: “Oops! Try again.” (Ops! Tente novamente).
Figura: Página do site Kidrex Fonte:Disponível em: http://www.kidrex.org/results/?q=sex&cof=FORID:10&ie=UTF-
8&safe=high&cx=005531940451544459472:_wxzudlmale&sa.x=0&sa.y=0.
Isto foi motivo de crítica de Marcos Palácios em seu blog7, afirmando ser essa filtragem muito radical, afinal, existem diversas maneiras e linguagens para explicar sexo às crianças. Ele também chama a atenção para o termo “pedofilia” que
não está entre as palavras-chave previamente censuradas e a busca trouxe uma enorme quantidade de páginas, obviamente direcionadas para o público adulto. Entre os resultados está um site abertamente homofóbico, associando Pedofilia e Homossexualidade, em uma mensagem assinada por "a French Brother". (...) encontramos também convites para conversão a seitas exóticas contra a pedofilia e pelo governo dos gênios, (...) uma música australiana sobre pedofilia na família, e demos com um site para "encontros com Indonesian girls".8
Afirmando a preocupação com a segurança, o site traz recomendações para os pais de uso tanto do computador quanto da internet pelas crianças, como: colocar a máquina num
7Disponível em: http://gjol.blogspot.com/. Acesso em: 15 jun. 2009. 8 Disponível em: http://gjol.blogspot.com/2009/06/kidrex-um-google-infantil-que-filtra.html. Acesso em: 11 jul. 2009.
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lugar central e visível, checar o histórico dos sites visitados pela criança, proteger a senha, principalmente quando acessadas em locais públicos, e nunca repassá-las para estranhos ou trocar informações pessoais com eles, mas, acima de tudo, recomenda-se ensinar as crianças a navegar pela internet, para que ao fazerem sozinhas saibam visitar sites seguros, distinguindo as fontes reais das irreais e chama a atenção para a prática do Ctrl+C – Ctrl+V (Copiar-Colar), alertando que isso é plágio.
Como o número de páginas cresce a cada dia, a segurança do KidRex é posta em risco, por isso, eles pedem que os responsáveis entrem em contato com o site, caso encontrem algum conteúdo inapropriado.
Faz parte da sua página principal a expressão “safe search for kids, by kids”. O termo “by Kids” pressupõe ou uma escuta dos desejos da criança, o que abre perspectivas dúbias eticamente, ou nos leva a pensar que as crianças teriam participação na construção do site, mas vemos apenas a possibilidade de elas contribuírem com desenhos no link Drawings.
4.2 Os resultados: o que há de infantil no KidRex?
Mostraremos individualmente os resultados dos termos que sugerimos para a busca nos sites KidRex e Google, diferenciando aqueles que foram desenvolvidos para adultos daqueles que trazem todos os aspectos infantis e, ainda, daqueles que trazem algum indício infantil.
Tabuada
Quando procuramos pelo termo “tabuada”, dos dez links encontrados podemos considerar que três realmente foram produzidos para criança, pois dois são jogos educativos e o outro é o site E-escola9, dedicado a fornecer conteúdo auxiliar gratuito aos estudantes do ensino fundamental e médio para pesquisa escolar, consulta e referência, eles apresentam as informações em forma de gráficos e quadros com poucos textos.
O restante dos resultados da busca é de dois sites que estão inseridos em homes não voltadas para crianças. Um da universidade de Lisboa, onde são desenvolvidos recursos atrativos para as crianças aprenderem através do site, no caso, é apresentada uma tabuada com alguns números animados. O outro site é específico para criar jogos.
9 Disponível em: www.e-escola.com.br/tabuada.htm. Acesso em: 26 jul. 2009.
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A metade dos links é referente a Paulo Tabuada, um pesquisador acadêmico, mas que não tem nenhuma relação com criança. Interessante notar que este não aparece no Google, onde temos três links para criança, todos com jogos educativos, cores, animações.
No entanto, todos os outros links fornecidos pelo Google podem ser utilizados por crianças, alguns mantêm a interface da página infantil, mas é necessário ser acompanhado pelos pais, pois o material disponibilizado deve ser comprado; em outros não vemos uma interface infantil, pois atinge outros públicos também, mas o conteúdo é acessível ao usuário- criança, por exemplo: o site SoMatemática10 tem materiais para ensino fundamental, médio e superior, além de biografias de matemáticos, trabalhos de alunos, provas online, um grande acervo de software matemáticos, artigos, jogos, curiosidades, histórias, fóruns de discussão e etc. Assim, todos os sites do Google podem ser utilizados por crianças, havendo sempre conteúdo específico para elas, diferente do KidRex.
Independência do Brasil Para o segundo termo, apenas três dos dez resultados não atendem à necessidade da
criança. Um deles é o link do site Historianet11 que trata de diversos temas de história (geral, antiguidade, etc.) com notícias, atualidades, mas numa linguagem adulta e sem nenhum atrativo para criança que trabalhe com sua imaginação (cores, animações etc.); os outros dois sites se referem a uma cidade do Ceará e ao download do LP da banda Capital Inicial com nome Independência Rock Brasil.
Os outros resultados foram pensados para o público infantil. Os principais foram o site CanalKids12, onde encontramos a Kidspedia – enciclopédia que facilita a pesquisa escolar. Esta tem como base as matérias do ensino fundamental (português, história, geografia, matemática, ciências e inglês), além do conteúdo das mais de dez mil páginas do Canal; a pesquisa pode ser feita por matéria ou na caixa de busca do próprio site, de onde se acessa o Google, mas todos os resultados levam ao CanalKids.
Outro link interessante é o Kids-Dever de Casa13, vinculado ao provedor Terra, que conta com uma sessão dedicada às crianças, trazendo um resumo breve sobre o tema Independência do Brasil. Mas o objetivo principal é mostrar vários sites que tratem do assunto, fazendo sobre cada um uma breve explicação do tipo de informação disponibilizada nele.
10 Disponível em: www.somatematica.com.br/fundam/tabuada.php. Acesso em: 26 jul. 2009. 11 Disponível em: www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=3. Acesso em: 26 jul. 2009. 12 Disponível em: www.canalkids.com.br/cultura/historia/independencia.htm. Acesso em: 26 jul. 2009. 13 Disponível em: www.terra.com.br/criancas/independencia.htm. Acesso em: 26 jul. 2009.
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Um caso semelhante é o do MundoSites14, pois também disponibiliza links sobre o assunto pesquisado com uma avaliação dos mesmos a partir de nota, no entanto, nem todos eles são voltados para crianças. Além desses, encontramos mais dois outros casos que, mesmo não apresentando todas as características de um site infantil, pode atender às crianças, pois a linguagem é acessível.
Dos treze links do Google, apenas um poderia ser considerado infantil, que é o CanalKids, também mostrado pelo Kidrex. Contudo, podemos dizer que oito atenderiam a necessidade das pesquisas escolares, pois mesmo não apresentando todos os indícios infantis, mostra linguagem acessível e a criança poderá tirar proveito se estiver realizando a pesquisa junto a seus pais ou professores. Dentre estes oito, destacamos três mostrados também pelo KidRex.
O Google, em quase todos os termos buscados, trouxe resultados de imagens e vídeos, muito úteis para a pesquisa e aprendizado das crianças. Nem todas podem ser adequadas, mas, pelo menos na primeira página dos resultados, nenhuma explicitou conteúdo inapropriado.
Corpo humano
Este é um termo que pode nos levar a sites de conteúdos inapropriados. No entanto, dos dez sites do KidRex, cinco são desenvolvidos para crianças: CanalKids, Kids – dever de casa, já descritos acima, Clube dos kids15 – blog para crianças, Kids Sapo16 – um motor de busca desenvolvido pela Universidade de Aveiro, em Portugal, que traz sessão infantil. De todos os sites, apenas um não é indicado para crianças, pois é feito por um estudante de medicina para atender ao usuário acadêmico.
No Google aparece também o CanalKids, é o único que podemos chamar de infantil. Dos dez links, quatro podem ser utilizados por crianças, com ajuda dos pais e professores, dois são resultados de vídeos e imagens, e o outro é o ColaDaWeb17, um portal de pesquisas educacionais, onde é possível encontrar um acervo de trabalhos escolares e acadêmicos que podem ser baixados, além de livros, resumos e exercícios resolvidos.
Novas regras da gramática
14 Disponível em: www.mundosites.net/historiadobrasil/independenciadobrasil.htm. Acesso em: 26 jul. 2009. 15 Disponível em: clubedoskids.blogs.sapo.pt/6962.html. Acesso em: 26 jul. 2009. 16 Disponível em: kids.sapo.pt/article/246. Acesso em: 26 jul. 2009. 17 Disponível em: www.coladaweb.com/corpohumano.htm. Acesso em: 26 jul. 2009.
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Na busca por algum site que orientasse as crianças sobre o novo acordo ortográfico, dos dez encontrados apenas o CanalKids tem signos para crianças. O restante dos links são notícias e resumos das principais mudanças em blogs, portais de notícias e ainda um link para download do Guia Prático da Nova Ortografia da Michaelis. No Google, dos dez sites, seis são iguais aos resultados do KidRex, nenhum, no entanto, voltado para criança.
Regiões brasileiras
Por último, a expressão “Regiões Brasileiras” também não nos levou a nenhum link infantil, contudo, em quatro dos dez é possível o acesso, a compreensão por parte da criança, como exemplo, temos as páginas do Brasil Escola18 e do Brasil Channel19, que trazem informações e mapas das regiões.
No Google, a possibilidade é maior, temos seis links acessíveis a crianças, quando estas estiverem acompanhadas de pais ou professores, como a MiniWeb20, que é um portal voltado para o aperfeiçoamento do aluno e do professor, ele foi desenvolvido com objetivos educacionais, trazendo cursos online, sites interativos e informações para alunos e professores, nele existe um link infantil com caixa de busca para pesquisa. E ainda encontramos o Mundo Educação21 e a página do Colégio São Francisco22, que trazem artigos sobre diversos assuntos, matérias e atualidades, apesar da interface ser jovem, a linguagem é acessível para crianças.
5 Considerações finais
As crianças de hoje nasceram na era da internet, mas a internet ainda não nasceu para elas. De forma geral, os resultados da pesquisa mostram que o acervo na rede para adultos e jovens é bem mais variado, não diferente do mundo físico. Poucas são as opções de sites que obedecem, em todos os aspectos, ao que simbolizaria uma cultura infantil. É mais comum vermos as crianças adequando-se às páginas para outros públicos, as quais não apresentam nenhum atrativo visual e interativo para elas. Talvez, por isso, “(...) children find it difficult to use online information resources, being unskilled in the process of searching, using keywords and so forth, this being partly a matter of training and partly a matter of interface design.”
18 Disponível em: www.brasilescola.com/brasil/regioes-brasileiras.htm. Acesso em: 27 jul. 2009. 19 Disponível em: www.brasilchannel.com.br/regioes/. Acesso em: 27 jul. 2009. 20 Disponível em: www.miniweb.com.br/Atualidade/info/1a_4a/regioes_4a.htm. Acesso em: 27 jul. 2009. 21 Disponível em: www.mundoeducacao.com.br/.../as-regioes-brasil.htm. Acesso em: 27 jul. 2009. 22 Disponível em: www.colegiosaofrancisco.com.br/.../brasil/regioes-brasileiras.php. Acesso em: 27 jul. 2009.
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(FASICK, 1992 apud LINVINGSTONE 23). O KidRex, apesar de vender-se como um site comprometido com as crianças, não se mostra eficiente em disponibilizar resultados exclusivos para elas.
Este relacionamento sugestionado por alguns sites infantis com os pais e professores antes de acontecer com a criança, quando, por exemplo, é necessária uma ação de compra antecedendo a utilização das ferramentas pelas crianças, ou é necessário que haja um acompanhamento para explicar o conteúdo encontrado no site, pode favorecer a função dos mesmos enquanto formadores e educadores, filtrando o conhecimento recebido pelos seus filhos ou alunos. A questão é que, no geral, a busca na internet não é recomendada e muito menos acompanhada, o que permite que a criança faça um uso, na visão dos pais, desregulado da mesma; e a responsabilidade pelo excesso descontrolado de informações recai sobre o meio.
Assim, respondendo a nossa problemática sobre se existem indícios da instauração de uma cultura midiática infantil na rede, pudemos constatar que se desenvolve o embrião de uma cibercultura infantil. Este parece ter em seu gene o viés educacional, carregado de traços lúdicos, que podem, quando bem utilizados tanto pelos pais, quanto pelos professores orientando as crianças, servir como uma fonte de conhecimento, saber facilitando a aprendizagem.
Referências bibliográficas
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BELLONI, Maria Luiza. Os jovens e a internet: representações, usos e apropriações. In: FANTIN, Mônica; GIRARDELLO, Gilka (orgs.). Liga, roda, clica: estudos em mídia, cultura e infância. Campinas, SP: Papirus, 2008.
CAPPARELLI, Sérgio. Infância digital e cibercultura. In: PRADO, José Luiz Aidar (Org.). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker Editores, 2002
23 “(...) crianças encontram dificuldade em usar recursos de informações online, sendo inexperientes no processo de procurar, de usar palavras-chave e assim sucessivamente, esta, em parte, é uma questão de treino e, em parte, uma questão de design da interface.” (tradução livre). P. 153.
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EISENSTEIN, E. L. A revolução da cultura impressa: Os primórdios da Europa Moderna. São Paulo: Ática, 1998.
GIRARDELLO, Gilka. Produção cultural infantil diante da tela: da TV à internet. In: FANTIN, Mônica; GIRARDELLO, Gilka (orgs.). Liga, roda, clica: estudos em mídia, cultura e infância. Campinas, SP: Papirus, 2008.
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III Simpósio Nacional ABCiber - Dias 16, 17 e 18 de novembro de 2009 - ESPM/SP - Campus Francisco Gracioso
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Interessante encontrar meu artigo divulgado aqui.
ResponderExcluirobrigada ;)
Ana Flávia Camboim