Conheça o famoso laptop de US$ 100
Conheça o famoso laptop de US$ 100
'Link' foi ver de perto o primeiro protótipo do equipamento, que está sendo testado por pesquisadores da USP
Maurício Moraes e Silva
Quem nunca ouviu falar do laptop de US$ 100? As primeiras notícias sobre o projeto surgiram em janeiro de 2005, e a idéia de distribuir um micro para cada aluno de escola pública em um país em desenvolvimento logo ganhou repercussão mundial. Teve quem garantisse que tudo não passava de uma grande loucura, mas, depois de dois anos de esquentados debates, os micros finalmente saíram da prancheta e começaram a virar realidade. Ainda assim, pouca gente até hoje conseguiu ver um dos aparelhos. Será que funcionam mesmo?
Para saciar a curiosidade dos leitores - e também a nossa -, o Link foi conhecer de perto o primeiro protótipo, que já está sendo testado no Brasil. Em dezembro, o País recebeu cem dentre as primeiras unidades da máquina fabricadas pela empresa Quanta, de Taiwan. Vinte delas estão sob os cuidados de uma equipe do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), chefiada pela professora Roseli de Deus Lopes.
Batizado como XO, o laptop de US$ 100 - que na verdade custa US$ 130 - está quase pronto, para felicidade do seu idealizador, o renomado guru da tecnologia Nicholas Negroponte. Embora ainda apresente várias falhas, o aparelho impressiona tanto pela simplicidade e leveza como pela boa aplicação do conceito de portátil educacional. O protótipo desenvolvido pela organização não-governamental (ONG) One Laptop per Child ('Um Laptop por Criança', conhecida também pela sigla OLPC) pesa só 1,5 quilo com a bateria. Fechado, fica um pouco maior do que um caderno.
Considerado como um dos grandes desafios do projeto, o hardware (que inclui as peças internas, a tela e a carcaça) só não está 100% pronto por um detalhe - bastante importante, aliás. 'O plástico ainda não é o final', explica Roseli. A primeira versão do protótipo, que leva o código B1, foi feita com um material mais delicado, que dificilmente duraria muito tempo na mão de crianças. A professora explica que a versão final dos aparelhos terá acabamento emborrachado, mais resistente.
Já a tela superbrilhante de 7,5 polegadas, desenvolvida para economizar o máximo de energia, surpreendeu os pesquisadores do LSI. 'A resolução veio bem maior do que esperávamos', conta a professora. O laptop exibe imagens com a taxa de 1200 por 900 pontos, bem maior do que os 640 por 480 pontos imaginados. Por conta disso, alguns dos aplicativos que serão incluídos no notebook vão ter de ser adaptados para o novo tamanho. Quando a bateria está com pouca carga, o display entra no modo monocromático automaticamente.
O aparelho vem com webcam, microfone e dois alto-falantes embutidos em volta da tela. Ainda ao redor do LCD, há um controle direcional do lado esquerdo e quatro botões do lado direito, iguaizinhos aos de um joystick. O display gira 180 graus e se encaixa sobre o teclado, permitindo ao XO funcionar como um livro eletrônico (e-book) ou como um videogame portátil. Ele ainda não tem, contudo, aplicativos específicos para realizar essas duas funções.
Existem também duas antenas, capazes de receber e transmitir dados. Por meio delas, o micro conecta-se à internet pelo sistema Wi-Fi e também consegue enviar informações para outros laptops próximos, formando uma rede local. Sob as duas há no total três portas USB para conexão de dispositivos adicionais, além de uma entrada e uma saída de áudio. O laptop conta com um leitor de cartões do tipo SD, que fica escondido debaixo da tela e só pode ser visto quando se gira o LCD num ângulo de 90 graus.
O XO conta ainda com teclado emborrachado e de teclas pequenas, adaptadas para o tamanho dos dedos da garotada. Logo abaixo dele existem três retângulos. O do meio, que possui dois botões, é o touchpad, bem similar ao dos notebooks tradicionais - basta passar o dedo sobre a área que o ponteiro do mouse se movimenta na tela. O dispositivo, contudo, apresenta sérios problemas. O ponteiro treme demais e é quase impossível controlá-lo.
Uma solução para o defeito depende de ajustes no sistema operacional, para fazê-lo 'entender melhor' o touchpad. Os outros dois retângulos que ficam do lado ainda não estão funcionando, mas a idéia é que sejam habilitados para permitir o entendimento de escrita. No teclado existem também algumas teclas misteriosas, como a de uma mãozinha, que só devem ser habilitadas em futuros protótipos ou na versão final do equipamento.
Também está havendo falha no carregamento da bateria dos notebooks, o que obrigou a equipe do LSI a ligar os aparelhos na tomada. 'Parece que, com as novas versões do sistema operacional, que saem quase diariamente, isso foi corrigido', afirma o estudante Leandro Coletto Biazon, de 22 anos, que integra o grupo. Por enquanto, isso não foi testado no Brasil. 'Querem que a bateria dure cinco horas seguidas, mas parece que só conseguiram quatro', diz o aluno Rafael Barbolo Lopes, de 19 anos, que também faz parte da equipe.
A OLPC desistiu da manivela, que seria usada para recarregar o XO em áreas onde não houvesse energia elétrica, pelo risco de quebrar facilmente. No início do mês a ONG anunciou, durante a Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas, uma opção alternativa. Trata-se de um dispositivo muito semelhante a um ioiô. O objeto deve ficar preso a um objeto fixo. Depois, é necessário puxar a corda. A fricção gera energia.
INTERFACE SIMPLES
O XO usa a interface Sugar. Embora baseada no sistema operacional GNU/Linux, ela cria um ambiente de trabalho totalmente diferente do esquema de pastas e janelas ao qual estamos acostumados hoje. É completamente intuitiva: ninguém precisa saber ler para acessar os programas, cujos ícones ficam dispostos lado a lado na parte inferior da tela. Entre as opções estão editor de textos, mensageiro instantâneo (que não se comunica com redes conhecidas como a do MSN), navegador, o e-Toys (um software que permite criar jogos e programar) e o Tam-Tam (um simulador de instrumentos musicais).
Na parte de cima da tela, o usuário pode clicar em ícones para ver se há outros grupos de laptops trabalhando em conjunto nas proximidades. 'Abre-se um paradigma novo. O aparelho leva o trabalho colaborativo para a sala de aula' , destaca a professora Roseli. Todo o sistema foi pensado para favorecer esse tipo de atividade. 'Com um caderno, isso é impossível.'
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