terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Educação para o consumo

http://www.midiativa.tv/blog/?p=673



18/01/2010

Por Maria Inês Dolci

Precisamos de uma nova geração de consumidores que lute por seus direitos e exija práticas cidadãs das empresas públicas e privadas

Quantos de nós, ao volante, já fomos repreendidos por nossos filhos ao mínimo deslize -buzinar, acelerar muito o carro, discutir com outros motoristas? Onde eles aprenderam que o trânsito poderia ser mais civilizado, se todos se comportassem como cidadãos?

Principalmente na escola.

É lá que as crianças e adolescentes discutem, também, a importância de preservar o ambiente, fazem votações simuladas e recebem noções de responsabilidade social.

Concluo, então, que educação para o consumo deveria constar do currículo obrigatório. Os alunos aprenderiam, nessa disciplina, a diferença entre pagamento à vista e a prazo, a calcular uma taxa de juros simples e quais são os direitos básicos do consumidor.

Começariam, desde cedo, a se vacinar contra o consumismo, o desejo compulsivo de comprar em substituição a outras emoções e gratificações da vida.

Esse ensino poderia ser vinculado a outras disciplinas, como matemática (juros, taxas de cadastro), ciências (por que produtos de época, como frutas e legumes, são mais baratos e saudáveis), história (a evolução do consumidor e de seus direitos ao longo do tempo), educação física e esportes (os direitos do torcedor).

Ao lado da defesa do ambiente, a conscientização do consumidor é um dos principais desafios das sociedades modernas. Ao escolher produtos e serviços, estamos, também, dizendo sim ou não a práticas ambientais nocivas, ao trabalho infantil, à precarização do emprego, aos acidentes de consumo, dentre outros problemas gravíssimos de nossos dias.

Comprador consciente também sabe dos malefícios do contrabando, da economia informal, da sonegação de impostos.

Governos costumam gastar fortunas -nossas!- em propagandas de suas administrações. Quantas vezes vocês, leitores, viram anúncios oficiais que estimulassem o consumo consciente? Provavelmente nunca, porque não dão votos, ou incomodam financiadores de campanha.

Cabe aos pais, então, se mobilizar para cobrar isso dos políticos nos quais votam e das escolas nas quais seus filhos estudam. Precisamos, urgentemente, de uma nova geração de consumidores conscientes, pronta para lutar por seus direitos e exigir práticas mais cidadãs (de verdade, não somente no marketing) das empresas públicas e privadas.

É verdade que essa conscientização tenderá a se multiplicar e a invadir áreas como a política, os direitos dos eleitores. Políticos não gostam muito disso, mas uma sociedade só se torna desenvolvida quando cada um conhece seus direitos e deveres.

Quando motoristas e pedestres respeitam os semáforos, as faixas de segurança. E quando cidadãos não precisam ser proibidos de fumar em locais fechados, não furam filas e exigem tratamento digno de fabricantes e lojistas. Pessoas assim não compram produtos sem nota e reciclam o lixo. Não jogam papel pela janela do carro ou do ônibus.

Desenvolvimento de verdade é isso. O resto é mania de grandeza ou demagogia.


Folha de S. Paulo, Vitrine, 16/1/2010
Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/vitrine/vi1601201003.htm

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